Finalizado - Uma memória distante

- E eu pensava que você era um homem da cidade Nomura-san, mas ta vendo só seu moço, o Senhor Nomura aqui ele demonstrou bem o que acontece quando um homem não paga suas dívidas, ele até pareceu muito com os homens lá da minha vila, o senhor devia ver como é, um camponês brabo do jeito que eles ficavam, a diferença na encenação do senhor Nomura era que se fosse um homem do campo o senhor já estaria sem os dentes, imagina só. Mas ei... - Dizia enquanto se abaixava e pegava o saquinho de moedas, imaginando que aquela seria a quantia exata que o homem devia, tirando de dentro uma única moeda de ouro, imaginando ser um valor interessante (valor esse que novamente o animal do escritor esqueceu) e colocava no bolso do homem enquanto ele ainda estava sendo erguido. - Fica pro senhor pra o senhor pelo menos remendar os buracos no chão da sua casa, essas coisas são perigosas. Pois bem, Nomura-san 'taqui' o dinheiro do homem, já deu de encenar um camponês irritado, to começando a achar que você não é tão da cidade assim, anda que o dia ainda vai ser longo.

Saia de lá andando junto do homem, parando apenas um segundo para pensar se deveria ao menos ter levantado a porta, mas preferiu deixar do jeito que estava, o homem ia pensar que talvez estivesse tentando criar mais dívidas por tentar ajudar, se bem que depois dessa, acho que aquele homem jamais ia criar uma outra dívida na vida, respirando fundo e seguindo pela estrada sul junto de Nomura, olhava o horizonte, incerto do que se seguiria, parte se sentia ansioso, claro que imaginava fazer mais do que viver apenas do campo, mas ao mesmo tempo imaginava as pessoas que haviam ficado para trás, imaginava que se um dia fosse um rapaz com condições melhores, a primeira coisa a fazer seria melhorar a vida de seus pais adotivos por terem cuidado tão bem e terem dado a melhor vida que podiam, o que trazia lembranças das palavras que dizia sobre gente do campo... - Sabe, realmente era uma boa ideia criar uma confusão grande batendo num homem logo cedo pela manhã? Foi tão mais simples só chutar a porta e pegar ele de calças baixas, a propósito, considere isso como uma forma de compensar pelo copo de sakê, eu falei sério sobre dívidas serem ruins. - Dizia um tanto quanto sorridente, fingindo esconder os pensamentos ruins sobre se perguntar se estavam todos bem em sua terra natal.

Chegava no lugar com o homem, encontrando cavalos e uma carroça, em uma fazenda, um ambiente até que bem familiar. O Homem começava a falar com um fazendeiro, aproximava de um dos cavalos, respeitando seu espaço e não fazendo movimentos bruscos para não o assustar, enquanto o homem subia na carroça só esparando para começar a viagem, questionava, mas subia mesmo assim, se caso ele mudasse de ideia, bastava seguir, se não, não tomaria mais tempo com a dúvida. - Por que submeter os cavalos a ter de puxar a carroça? Peso desnecessário, levaríamos bem menos tempo para chegar ao destino e os cavalos não teriam de puxar tanto peso, cavalgar não seria uma ideia melhor?

Partíamos de viagem, novamente em cima de uma carroça para algum lugar que sequer tinha ideia de para onde ia agora, talvez o destino final fosse algum lugar que alguém estivesse esperando, e tudo isso não fosse mais do que um teste. Soltava um breve suspiro - Tudo parece ter mudado incrivelmente rápido da noite pro dia, eu ainda me pergunto o porquê de tudo isso, claro que não pra você, eu sei que detesta perguntas, mas eu queria saber, por que eu? Por que tudo isso só pra buscar um filho de um fazendeiro? O que eu tenho de tão especial assim? De qualquer forma, não acho que valha a pena se questionar tanto sobre o assunto, mas se puder me falar alguma coisa, poderia pelo menos falar sobre quem é o homem que está tão interessado assim em mim? Não tenho nomes nem nada que me dê alguma pista sobre quem é o sujeito.

Não haviam tantas respostas quanto esperava que houvessem, mas logo ele também entenderia por que haviam tantas perguntas. - De onde eu vim? Bem, não sei dizer ao certo aí que está, eu sei muito pouco sobre de onde eu vim, meus pais adotivos me contaram que por ser incapaz de conceber, minha mãe não podia ter um filho, e isso a fez rezar aos deuses para que pudessem permitir que ela um dia fosse mãe, então, na noite seguinte, uma jovem moça como ela descreveu, apareceu em nosso vilarejo com um bebê nos braços e deu a minha mãe adotiva, o privilégio de ser capaz de ser aquilo que tanto pediu aos deuses, mãe. Eu cresci como um filho de fazendeiro comum, nada de especial, bom, salvo o dom do combate armado, que aprendi a manejar com um dos anciões do vilarejo que dizia ser um ex militar, essa Naginata estava em sua posse, porém ele disse que era minha, disse que a conseguiu no mesmo dia que a tal moça apareceu, também sei pelo que foi me contado de que meu pai biológico era um homem importante, não sabia necessariamente o porquê da importância, talvez um título, ou alguma coisa especial... Antes que eu pudesse saber mais uns baderneiros resolveram fazer uma algazarra no vilarejo, roubando os aldeões. - Ouvia o homem falar alguns nomes que não lhe eram familiares, balançava negativamente como forma de falar que não sabia nada sobre aqueles nomes, e também confirmando negativamente sobre a pergunta de ser uma arma secreta. - Arma secreta? Não que eu saiba, sou só um filho de fazendeiro que por estar acostumado a manejar uma foice, aprendi a manejar um pedaço de madeira com uma ponta de ferro, no fim, acaba sendo a mesma ideia. Se bem que... Não sei se conta como "arma secreta" mas quando os baderneiros resolveram causar a zona no vilarejo, estavam vindo roubar os meus pais, eu certamente intervi, mesmo que aconselhado por meus pais a não lutar, o que me deixou num impasse, afinal, para que aprender a lutar se não for para proteger as pessoas, não? E meio que eu estava desarmado, mas ainda assim os enfrentei, sei que me levaram para o centro da cidade e começaram a me bater, mas minha mãe não suportou ver aquilo e resolveu intervir, foi quando ver ela sendo machucada que peguei um porrete, furioso, comecei a bater em um dos homens com cada vez mais raiva... Sei que, teve um momento em que eu apertei o porrete para dar o último golpe no cara, do nada o porrete simplesmente pegou fogo, tipo do nada mesmo, e aquele fogo não parecia me queimar, sei lá, era definitivamente estranho, na verdade tudo o que aconteceu depois, inclusive até chegar até você fosse por causa disso... Será que era isso a que se referia?

Ria descontraído, o homem certamente sabia como amenizar uma questão, mas no fundo tudo aquilo apesar de ser extremamente repentino, não incomodava tanto quanto imaginava que incomodaria enquanto não falava sobre, mas decidia descontrair também. - Bem, de qualquer maneira, certamente é mais emocionante que só capinar um lote haha. - Algumas palavras do homem deixava uma marca de surpresa nítida no rosto. - Habilidades elementais? E que papo é esse de surpreendente? Vai me dizer que isso é algo comum de se ver? Um cara qualquer dizendo que solta fogo pelas mãos não te supreende?

Encarava Nomura com um olhar de quem achava que aquele homem estava louco. - Você só pode estar louco velho... - Como eu disse, louco, ou bêbado, visto que ele bebia quando eu o conheci. - Ou então a bebida só veio fazer efeito agora, você realmente não quer que eu acredite que é comum alguém por fogo nas coisas com a mão? Vai me dizer o que depois? Que existem pessoas que conseguem controlar o vento, a água e a terra também? E que isso é uma coisa normal? - Caçoava, certamente aquilo era algo impossível.

Tudo bem, aquilo era deveras informação demais para se assimilar em um curto período de tempo, o revirar do que parecia ser normal até então ainda dava voltas na cabeça só em saber que os seres humanos são superpoderosos a ponto de manipular tudo ao redor, mas as coisas ainda não ficavam muito bem claras até então... - Então esse tal chakra é presente em todos os seres humanos, então por que eu nunca vi algo parecido em canto algum, se é possível manipular tudo isso, certamente os camponeses já teriam desenvolvido maneiras melhores de aumentar a eficiência de suas plantações, ou até mais importante que isso, se algo assim é como diz você, comum, por que que EU em particular do nada passei a ser especial, no fim eu seria só mais um... - Era muita coisa para processar, não queria necessáriamente respostas, queria ao menos ser capaz de processar tudo aquilo, quanto mais o destino parecia se aproximar, mais perguntas jaziam em se criar...

Dava de ombros, apesar de tudo aquilo ser extremamente novo e excitante, estava deveras tranquilo apenas imaginando de que de alguma maneira caso se dedicasse bastante, poderia descobrir um jeito de facilitar a vida humilde dos camponeses do lugar de onde crescera. - Mas e tu, homem da cidade, sabe fazer algo assim? Não deu para ver você fazendo nada contra o bicho feio lá. - Desviava o foco do assunto, até então só haviam falado de si, mas o homem nada sabia sobre, pelo menos puxando papo quem sabe a viagem não ficava mais curta.

- Também não precisa ofender, senju é tua tia, não sei o que é isso mas me soa como insulto. - Dizia o capial enquanto acreditava que o vínculo e a amizade havia sido desfeita ali com xingamentos e baixarias. - E eu aqui achando que estavamos começando a ser amigos, ia até perguntar se você não queria que eu guiasse a carroça para tirares um coxilo, claro que lhe acordando de tempos em tempos por que né, eu não sei o caminho, mas ainda assim.