Finalizado - Uma memória distante

- Não sei se enfrentar alguma coisa que eu não conheço é uma boa ideia, experiência própria de quem tomou um belo de um golpe na barriga. - humor, humor e piadas de quem estava contente em saber que pelo menos o homem estava se divertido... - Enquanto não chegamos, vai me falando sobre você, sobre o homem que te contratou para vir fazer da minha vida um inferno. E antes que reclame, dessa vez eu não estou perguntando. - Não é como se quisesse saber mais da criatura, mas ele não ia falar de qualquer forma..

- Algo me diz que é mais fácil falar do que fazer, mas tudo bem, nunca fui muito da ideia de deixarem que me agarrem. - humor, humor e piadas cada vez piores, mas parece que algo tinha afetado o humor do tal Nomura, pelo menos ele aparentava estar um pouco mais falante... - Utakata é? Está um pouco longe de casa homem da cidade. - Chegar no lago necessariamente indicava de que estava tendo algum progresso, e a julgar pela forma com que conversava com o homem, não era a única coisa em que progredia... - Nunca nem fiz nada para acharem que eu sou bom, sabe lá que importância é essa que você fala, vocês da cidade são estranhos... Seja como for, hora de mostrar um pouco de importância aqui.

- Atenção redobrada então, vamos ver se todo aquele sakê não te deixou devagar homem da cidade. - Puxava a Naginata de maneira defensiva, na atenção de qualquer tipo de coisa que poderia acontecer, pronto para uma evasão de emergência caso necessário. - Quando estiver pronto.

- É... E eu achava que a cara do tio Hitate de ressaca numa segunda de manhã era feia... - Aquilo era horrendo, jamais imaginava como enfrentar aquilo, mas conseguia imaginar que não seria uma boa permitir que agarrasse... Aquele casco certamente deveria ser bem resistente, atacar pelas costas seria fora de cogitação, mas aquela água na cabeça, certamente chamava a atenção, mas vamos ver do que o bixo feio é capaz. - É, da pra ver que você não está muito feliz, da pra ver nessa sua cara de pamonha, então vem bixo feio... Vem que a gente vai dançar na batida do meu taco. - Dizia, preparando uma manobra evasiva para uma possível investida.

- Okay, o que o bixinho tem de feio ele tem de rápido... - Sim, era esperado algo assim, mas queria medir os riscos devagar, mante-la sob controle, sob análise, ver se conseguia antecipar era preciso naquele momento. Se colocava na mesma postura, posicionando a Naginata atrás do corpo, mas dessa vez a esquiva seria um pouco mais suave, mais como um reposicionamento para um ataque girando a Naginata de maneira com que faria um corte diagonal, do torso ao pescoço. - Ei, bixo feio, me pegou desprevenido, não vai fazer de novo... - Dizia.

Respirava fundo, feito. Parando para pensar bem, sequer sabia com detalhes por que havia de ter matado aquela criatura, se incomodava os habitantes, tudo bem, mas e se os habitantes à incomodavam? Era difícil dizer... Se aproximava à uma distância relativamente segura, ajoelhando. - Flutue gentilmente... Para o oblívio. E encontre paz no vazio da morte... - Dizia enquanto com a lateral da mão, limpava o sangue da criatura da lâmina da Naginata... Erguia se e dizia: - Feito.

Realizar os ritos de passagem de qualquer ser vivo morto por suas mãos era um hábito que todos deveriam ter. Acreditava ser uma forma de se desculpar por ter sido aquele o qual lhe tirou a vida, mesmo que talvez esse sequer fosse seu direito, afinal, o que dava direito de tirar uma vida. Pelo menos acreditava que assim, seu espírito não vagaria sem rumo e poderia descansar do seu sofrimento enquanto vivo. Após reerguido e de volta os pensamentos corpóreos, ouvia o homem chamar, e jazia por se colocar de volta à aldeia, seguinto o homem. - Oe, tem algo mais a dizer sobre aquele bixo? Agora que está morto acho justo me falar algumas coisas sobre, parece já ter visto alguns deles.

O homem parecia realmente mais falante, questionava se era viável o questionar mais sobre as coisas que ele sabia sobre o velho, mas talvez não fosse uma boa ideia, de repente ele se fecharia de novo e aí ficaria complicado... - Complicado demais para lidar com isso, evitar um confronto seria melhor. Enfim, qual que é a do devedor, ele te deve dinheiro pelo serviço? Ou te deve uma garrafa de sakê? É que eu não quero me envolver com algo pessoal sabe, a galera da cidade costuma se meter numas encrencas complicadas.

Bocejava, mais vago que as explicações de nomura só a hotelaria da senhoria Miyosuma, ainda questionava como aquela velha se sustentava. Chegando na casa do tal do homem, observava Nomura chamar o homem, sem dar muita atenção para o que fazia. Notava uma coisa em relação aquela porta, um ar de curiosidade pairava no lugar, era um homem do campo, lá no campo as portas não eram assim, aquilo era claramente porta de casa de quem tinha muito mais condição de vida do que um mero camponês, mas ainda assim, parecia que aquele homem que Nomura pretendia cobrar não ia ter dinheiro para pagar a dívida, não teve dinheiro nem para por madeira na porta toda, a porta estava coberta por papel, tanto que depois de umas cinco ou seis cutucadas com o dedo, a sétima que havia sido com um pouco mais de força perfurava o tal do papel. Impaciente, mirando bem no centro da porta, inspirava e desferia um chute com toda a força no centro da porta, onde havia madeira, simplesmente a derrubando de uma vez. Estava certo de que Nomura o agradeceria por agilizar logo as coisas, então, com um singelo olhar para o homem, devolvia exatamente o mesmo sinal que este o fazia, com o polegar erguido num sinal de jóia

- Disponha, apesar de que acho que está perdendo tempo. Essa porta não serve de quase nada, caiu tão fácil com tão pouco esforço que eu nem duvido que o homem já deva ter sido assaltado algumas vezes - Virando o rosto encontrava o homem agachado no canto levantando o que parecia ser um pedaço do chão. - Viu só o que eu falei? O cara não deve ter nenhum tustão furado, até o chão dele ta saíndo do canto alá, ele mesmo ta tendo que por uma madeira pra cobrir o buraco. Aí o moço, a situação do senhor ta meio precária viu? Lá no campo as casas do pessoal pelo menos não tem porta remendada com papel nem buraco no chão não, e acho que nem deve ser tão caro, mas isso não importa, o senhor Nomura disse que o senhor tem uma dívida com ele e veio para cobrar, sei que o senhor deve estar meio apertado com toda essas coisas precisando de reforma, mas não devia acumular dívida com ninguém não.